"Tenho muito medo dos meus pecados ocultos ('Et multum timeo occulta mea'), patentes aos teus olhos e escondidos aos meus. Em toda a outra espécie de tentações tenho uma certa possibilidade de fazer um exame de consciência, mas nesta a minha possibilidade é quase nula."
"Confissões" (Santo Agostinho, citado por M. Heidegger in "Estudos sobre mística medieval")
A motivação para o pecado, conforme observa Heidegger, não está, pois, do lado do conhecimento, mas da vontade. A compreensão é obscurecida pela atracção do pecado, seguindo-se a obstinação em não querer compreender que, finalmente, é apenas não querer resistir ao plano inclinado para a queda.
Kierkegaard ('Die Krankeit zum Tode') é citado, numa ampliação sibilina deste processo: "e esta corrupção da vontade vai mais além da consciência do indivíduo particular."
A conclusão só pode ser a de que o indivíduo não se pode salvar se não for agraciado, já que a atracção do mal (o afastamento de Deus) é a lei deste mundo, e o conhecimento só acrescenta uma ilusão de responsabilidade ao que não pode ser de outra maneira.
Mas, se é assim, como pode ter havido uma "corrupção da vontade"? E o que vem fazer aqui a consciência do indivíduo? Um mais além da consciência, na ideia de Kierkegaard, não deveria ser uma espécie de conversão da moral à física?
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