terça-feira, 25 de maio de 2010

SABER E PODER


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"Saber ou poder, é preciso escolher. Aqueles homens inumeráveis que erguem uma antena no telhado crêem com isso tocar a ciência; mas, pelo contrário, desviam-se dela. É uma caça apanhar na armadilha essas ondas invisíveis e impalpáveis; mas é só uma caça. Curiosidade de poder, não curiosidade de saber. Aquele que ouve em Paris os rouxinóis de Oxford nem aprende história natural, nem a física. Bem pior, perde o gosto de aprender, pelo contraste entre a extrema facilidade desta sintonização que coloca na sua posse um concerto longínquo e a extrema dificuldade de saber aquilo que faz quando regula uma certa superfície de condensador e um certo comprimento de bobina (…). Desde que o avião voou sem a permissão dos teóricos, os técnicos escarnecem dos teóricos."

"Sur les Philosophes" (Alain)


Este poder de ligar à corrente um aparelho mais ou menos complexo para facilitar a nossa vida, de sintonizar as ondas de rádio ou de "navegar" na Web, de facto, não nos ensina nada, embora responda às expectativas de quase todos.

Nem todos enfrentam o dilema entre saber e poder. Antes da revolução técnico-científica, a curiosidade de saber já era preterida em favor do outro tipo de curiosidade. Podemos até perguntar-nos se a curiosidade de saber, que é uma das ideias feitas sobre a infância, não é antes uma curiosidade de poder e se, pela vida fora, não somos apenas consequentes com esse princípio.

Porque o verdadeiro saber tem de ser saber por saber, algo que se basta a si próprio e que encontra as suas raízes na ideia de contemplação platónica.

Quantos, na chamada "aldeia científica" comungam desse espírito quase religioso? É só ver o género de competição que ali grassa e a natural ambição de ser publicado e reconhecido pelos seus pares.

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