"Nenúfares" (Claude Monet)
"A única verdadeira viagem, o único banho de juventude, não seria ir ver novas paisagens, mas ter outros olhos, ver o universo com os olhos dum outro, de cem outros, ver os cem universos que cada um deles vê, que cada um deles é; e isso, nós podemos com um Elstir, com um Venteuil, com os seus pares, nós voamos verdadeiramente de estrelas em estrelas."
"La Prisonnière" (Marcel Proust)
A ideia de Proust é a de que um grande artista nos empresta outros óculos para ver o mundo. A grande pintura educa a nossa percepção e torna-nos sensíveis a realidades insuspeitadas.
Não imaginamos o choque que seria, sem isso, a adaptação do nosso modo de ver às incessantes transformações do mundo. Não podemos calcular o que seria não nos adaptarmos.
Como umas coisas arrastam outras, não seríamos levados a pensar uma realidade que já não existisse e não cometeríamos, por isso, erros fatais?
O cinema, por exemplo. Poderíamos "encaixar" a realidade virtual sem as suas histórias? Os mitos modernos têm quase todos essa origem. E, como na Grécia Antiga, não são histórias para adormecer. Talvez tenham a função reorganizadora do sonho que, mais do que prever o futuro nos mantém iguais a nós mesmos, ao que éramos no princípio, qualquer que seja a velocidade com que as coisas passam por nós.
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