sexta-feira, 20 de novembro de 2009

EMBAIXADA A UM LOUCO


Malcom McDowel em "Calígula"
(1979-Tinto Brass e Bob Guccione)


"Como dirigir-se a um imperador pálido das suas orgias, de cabelos pintados e fixo sorriso de mundano debilitado pelos vícios, como falar a um lugar-comum do poder temporal, sem que a banalidade toque as frases que saem dos lábios e o fracasso não se reflicta nos próprios olhos?"

"Embaixada a Calígula" (Agustina Bessa-Luís)


Tratava-se de convencer Calígula a abdicar da sua divindade para, em troca, prometer a submissão do povo judaico.

Ao escolher a embaixada de Fílon de Alexandria como título do seu diário de viagem, Agustina propõe-nos um enigma que me sinto tentado a decifrar, desde já (apesar de ainda não ter acabado de ler o livro). A empresa de Fílon não tem qualquer possibilidade de êxito, porque o imperador não é senhor de si próprio, nem por isso pode com ele resultar o conselho socrático do "Conhece-te a ti mesmo". O medo é o seu princípio: "Caio é o homem que cresceu no clima extraordinariamente adverso à liberdade.

Como poderemos ler esta "viagem a Itália" como a embaixada a um louco? Qual é o seu objecto? Suplicar a Itália, entidade mítica, que esteja à altura dos nossos sonhos? Que abdique das suas camorras e das suas berlusconices?

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