terça-feira, 10 de novembro de 2009

A INCERTEZA GERAL


Madame Émile Straus (1850/1926)


"'Não zombo do seu amigo, madame, garanto', afirmou Proust, que não parara de ridicularizar Ganderax desde o início da carta, 'Sei como é inteligente e culto. É uma questão de "doutrina". Este homem que é tão céptico, tem certezas gramaticais. Infelizmente, Madame Straus, as certezas não existem, nem mesmo as gramaticais […] apenas a que comporta o cunho da nossa escolha, do nosso gosto, da nossa incerteza, do nosso desejo e da nossa fraqueza pode ser bela."

(Carta de Marcel Proust à viúva de Georges Bizet, Madame Straus, citada por Alain de Botton)


A Teoria da Relatividade tinha que surgir no século XX, pois esta carta, escrita por Proust em 1908, é um eco perfeito daquele paradigma científico na literatura.

Aqui já não se manifesta o zelo cartesiano contra a aparência das coisas. A incerteza geral é a lei e nenhuma dúvida metódica pode salvar-nos dela.

Em vez disso, o único absoluto, que não pode ser atacado pela análise, nem por nenhum confronto com os factos, pois é o contrário duma lei: o da beleza. Aí, o individual e único, o pessoal e o que é "apenas" desejo encontram directamente o universal.

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