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"A inspiração literária helénica deve ser conjugada com o importante substracto judaico. Ainda hoje se diz que 'o judaísmo se aprende comendo' (S.Di Segni). Partindo do que está escrito na Lei (Lev 11;Dt 14) e na tradição, pode dizer-se que as escolhas alimentares de um membro do povo de Deus deviam ser consideradas como fundamentos da sua identidade cultural e religiosa. De facto, não podemos esquecer que o primeiro mandato que Deus estabeleceu para Adão e Eva, no relato do jardim, foi de categoria alimentar ('Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres terás de morrer.')."
"A Leitura Infinita" (José Tolentino Mendonça)
Desde a língua que se aprende com o leite materno, tudo o que passa a fazer parte da nossa substância deve ser "comido". Isto é, não deve seguir o caminho das ideias, mesmo quando "calam" fundo, convencendo primeiro a nossa razão, mas o da necessidade do corpo (que, evidentemente, aqui, não é o contrário da alma). Não é por acaso que se fala em fome para exprimir o desejo do outro. Como dizia Comte, é o inferior que explica o superior.
Não são os tabus alimentares do "Levítico" a mais perfeita separação das outras religiões?
A interdição de Jeová que atinge a "árvore do conhecimento" assume também a forma alimentar. Trata-se de um fruto particular. Por um lado, essa proibição é igual à que atinge os animais que não têm o casco fendido. Por outro, todavia, é uma manifestação do característico zelo do Deus dos Hebreus, porque o conhecimento significa considerar os outros deuses.
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