quarta-feira, 25 de novembro de 2009

POLA X



"Pierre ou les Ambiguités" ("Pierre or the Ambiguities"), de Herman Melville, cujo acrónimo deu o título do filme de Leos Carax, "Pola X" (1999).

Pierre (Guillaume Depardieu), que alcançou a notoriedade com um romance de culto para a juventude, sob o pseudónimo de Aladin, vive com a mãe num castelo da Normandia e vai casar-se com Lucie.

Isabel, uma imigrante do Leste, vem fazer a sua vida dar uma volta de 180º, ao declarar-se sua irmã ( o pai, embaixador prestigiado, abandonara a criança à nascença). Estas revelações são feitas num bosque nocturno que o jovem atravessava, e a cena tem toda a compulsão de uma psicose. Pierre abandona tudo para se dedicar à irmã. A inversão da imagem paterna torna, aos seus olhos, toda a vida social uma impostura, e a desmistificação disso passa a ser o tema do seu próximo livro.

O casal, vivendo à margem de tudo, rapidamente se torna incestuoso. A cena de amor é esquálida para dar a medida da queda moral da personagem. Roído pela ambiguidade da sua situação (ter-se-á tornado o paladino de Isabel por causa da sua beleza? O mundo parece-lhe hipócrita e o crime do pai inexpiável porque o seu desejo reclama o "fim do mundo" para legitimar o incesto?), decai física e moralmente, entregando-se freneticamente à escrita. A câmara foca-o de costas nesse acto (Carax diz que é assim que vemos os génios a trabalhar). Mas Pierre ilude-se quanto ao valor do seu testemunho. As críticas arrasam-no. Um assassinato põe fim à história e separa para sempre os irmãos.

Uma cena de uma poesia selvagem ficará para sempre na memória: a morte da mãe (Catherine Deneuve), a cavalo de uma mota por dentro da noite espectral.

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