O conceito de natureza foi certamente um dos que mais sofreu com as novas perspectivas abertas pela ciência teórica. Já não temos o Sujeito de um lado e a Natureza do outro, situação que justificava uma certa ideia do trabalho e de conquista de um mundo fundamentalmente estranho. Até ao momento em que se tornou evidente para os especialistas e sensível para o grande público, graças à acção dos media, que a natureza mais próxima, sob a forma do nosso ecosistema, era limitada e que esses limites podiam já ter sido atingidos. Esta situação é paradoxal por isto: à medida que cresce o conhecimento científico, percebemos que não podemos, em termos absolutos, ter qualquer poder sobre a natureza como cosmos. Só a fé mais extremada pode levar-nos a pensar que ocupamos no universo um lugar central e, apesar disso, verificamos que, pelo menos no que à vida no planeta diz respeito, parece que estão justificados todos os mitos antropocêntricos e que na verdade temos o poder de construir e de destruir como se fôssemos, de facto, os senhores da natureza. Claro que a destruição da vida na Terra, pela nossa cegueira, seria um suspiro inaudível para o universo, mas isso seria o fim da aventura humana. Assim como já assumimos que o facto de sermos seres sociais tem consequências sobre a definição do indivíduo, o facto de estarmos tão indissoluvelmente ligados à vida do planeta deve tê-las sobre a forma como vemos a chamada natureza e sobre o que é a nossa espécie. Por outro lado, um dos efeitos de adoptarmos um ponto de vista "cósmico" e de, em conformidade, nos reduzirmos à porção côngrua, como terráqueos, seria o de menosprezar o poder efectivo que temos sobre nós mesmos (no sentido mais verdadeiro). Daí que a pura identidade terráquea seja um impasse.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
TERRÁQUEOS
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