segunda-feira, 2 de agosto de 2010

PASTORÍCIA



"Quando Zaratustra caminha através da cidade na qual tudo se tornou mais pequeno, percebe o resultado de uma política de criação até então bem sucedida e indiscutível: os homens – segundo lhe parece – foram-se criando a si mesmos até conseguir, com a ajuda de uma habilidosa associação entre ética e genética, se tornarem mais pequenos. Submeteram-se à domesticação e puseram em marcha sobre si mesmos um processo de selecção e criação orientado para a docilidade do animal doméstico."


"Normas para o parque humano" (Peter Sloterdijk)


Parece uma apologia do selvagem, se pudéssemos acreditar que Nietzsche fosse tão mau sociólogo. Mas ele revolta-se contra uma classe de pastores que administram o rebanho mais em função do poder próprio do que no de qualquer interesse comum.

O humanismo "pastoral" pode ser, de facto, cúmplice das atrocidades do século XX, ao inibir em grande escala, a resposta natural à violência "antropocêntrica". É essa crítica que salva, segundo Sloterdijk, a posição de Heidegger ("Carta sobre o Humanismo").

Mas, ao elevar o "ser à categoria de autor exclusivo e único de todas as cartas (os livros seriam "volumosas cartas para os amigos" – Jean Paul)", Heidegger faz valer, entretanto, as suas opera omnia "como a voz e a pauta do supremo autor anónimo."

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