sábado, 28 de agosto de 2010

CARREGAR NO BOTÃO





O miúdo no bar da praia abraça o gelado gigante de plástico, radiante, e, à procura dum efeito mágico, logo carrega num simulacro de botão.

Se tudo é magia na infância, a começar pelo poder dos seus balbucios que levam os adultos a tentar adivinhar os seus menores desejos, nunca houve uma relação, pode dizer-se, tão infantil, com o mundo dos objectos, por parte do adulto, como hoje em dia.

A tecnologia habituou-nos ao maravilhoso e em qualquer novo invento, procuramos sempre o botão.

Fazemos a economia da compreensão e precipitamo-nos no efeito. Como se ensina hoje nas escolas com o uso das calculadoras.

O curioso é que isto se passe no mundo real, com seres humanos que conhecem, em princípio, o valor da experiência e sabem a que impasses conduzem as atitudes mágicas.

Temos assim, uma inteligência objectivada, e quase transcendente para a maioria, ao mesmo tempo que uma casta detém os seus segredos. Evidentemente, sem qualquer violência ou exclusivo. Vale a pena citar Musil: “Mas o dinheiro não é um meio de tratar as relações humanas tão seguro quanto a violência, e não nos permitirá ele renunciar ao demasiado ingénuo uso desta? Ele é violência espiritualizada; uma forma particular, flexível, refinada, criativa, da violência. Não se fundarão os negócios no engano e na exploração, na astúcia e na coacção, mas civilizadas, inteiramente transferidas para o interior do homem, travestidas em liberdade?” (“O homem sem qualidades”).

A divisão de tarefas faz-se naturalmente. De resto, tudo se passa como se cada força seguisse o seu impulso e cada estupidez individual se revelasse ao nível do conjunto inteligente.

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