quarta-feira, 11 de agosto de 2010

CHURRASCOS


Foz (José Ames)


Está tanto calor que as meninges esturricam e só apetece procurar o fundo duma gruta. Nem junto ao mar corre uma brisa benfazeja.

Ora a praia está pejada de corpos que se expõem em toda a sua superfície. Um ou outro sacrifica a Esculápio, besuntando-se com um creme protector. Mas a maioria oferece-se sem defesa aos raios de Apolo, como os nicotinómanos aos malefícios do tabaco, apesar de todas as campanhas contra o cancro.

No que vejo que a força dos mitos depende menos da nossa credulidade do que do que vemos os outros fazerem.

Assim, quando as praias podem ser gozadas sem dano para a saúde, enchem-se os centros comerciais. Mas quando a canícula faz cantar as cigarras, uma espécie de tropismo encaminha-nos para esse espectáculo à beira-mar em que a saúde e a juventude se celebram, como num ginásio em que o único exercício fosse suar.

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