domingo, 29 de agosto de 2010

EDUTAINMENT


Um Nativo Digital


Edutainment. Esta palavra é formada por education e entertainment. É a velha ideia de que se pode ensinar brincando, como quem joga. Marc Prensky escreveu até um artigo (http://www.marcprensky.com/writing) em que advoga as designações de Native Digitals (ND) e Immigrant Digitals (ID) para distinguir entre os que cresceram com a linguagem digital e as gerações mais velhas que têm um pé em linguagens anteriores e guardam sempre um sotaque.

A tese é de que o cérebro dos ND já se encontra estruturado, irreversivelmente, pelo uso dos computadores e da televisão, pelo que nunca poderão ser educados como dantes, no tempo dos livros e da rádio. Por outro lado, aos ID será muito mais difícil ainda ensinar de acordo com o paradigma digital.

É verdade que a atenção que requer, por exemplo, a leitura dum livro não é a mesma da que solicita um jogo de vídeo. Nem a inteligência num caso e noutro é igual. Daí, talvez, os deficits de atenção dos alunos no ensino normal e as dificuldades com o português e a matemática, por exemplo.

Mas a radical proposta de uma reconversão do ensino em função do digital e de se submeter a transmissão do legado cultural a uma espécie de caça ao tesouro, entre Indiana Jones e a Guerra das Estrelas, não significa apenas deitar ao caixote do lixo as competências e o saber da Escola, tal como hoje é, porque todo o passado sofrerá o efeito devastador duma colonização de bárbaros, sendo a civilização vencida nem sequer remetida para o museu da história que ninguém apreciará.

Entendamo-nos, ninguém poderá compreender e desfrutar o Dom Quixote através dum zapping aleatório pelas suas páginas digitalizadas. E o mesmo vale para toda a percepção que exija um tempo e um esforço de reflexão. A luz do ecrã intima a passar à frente. Elevadores e cliques de rato são fracos substitutos do virar de páginas e são perfunctórios.

Os novos bárbaros serão superficiais e incultos, embora extremamente dotados para o efémero e a velocidade. O saber ficaria confinado, por um tempo, a uma memória centralizada, sem ligação com a vida.

Se não se der um cataclismo resultante de tão grande desfasamento entre o que se pode e o que se sabe ou compreende, os novos conquistadores, cujo poder assentará sobretudo na supremacia biológica, não terão, como os Romanos, escravos gregos que os civilizem.

Ao contrário dessa aculturação pela civilização superior dos vencidos, o tudo-digital pode deixar a sobrevivência do homem, tal como o conhecemos, nas mãos dos povos que tenham feito outras escolhas.

Chegou o tempo de decidir, em nome do futuro, contra a digitalização precoce, como a tradição o fez em relação à genitalização precoce das crianças. Nem tudo o que é espontâneo num universo de forças é bom.

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