Estremoz:"São rosas, Senhor"
O que é que o Alentejo tem?
É um lugar-comum dizer-se que tem o tempo, que sabe vagar.
Neste verão de seca extrema, os campos estão mais tisnados do que nunca, com as rugas dum meio-dia sem sombra. Os sobros de pernas em sangue, imóveis, enquanto as cigarras fazem a sua frenética soldadura.
Pela janela do carro, entram os vapores da charneca queimada e os pios dum pássaro mineral. Os chaparros, as azinheiras e os sobros desfilam no horizonte como dromedários sobre a duna. E ninguém aparece. Esta é uma terra surpreendida no seu sonho.
Em Estremoz, um Batista de mármore, desterrado do seu Jordão, na água verde dum tanque. No castelo, ampla maravilha sobre a planície, Santa Isabel mostra as suas rosas, sonâmbula, ao lado da jóia que é a Galeria do Desenho.
Em Nisa, sou abordado por um louco com um incêndio nos olhos que me detém no passeio para que oiça a sua história. Despeço-o, dizendo que tem de ter paciência. Paciência, felizmente é o que não falta nesta terra.
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