Em “A queda”, Hitler aparece no declínio da força, quando as célebres explosões de cólera acontecem num teatro cada vez mais confinado ao bunker e quase desligadas do aparelho neuro-místico do regime.
O argumento, baseado nas memórias duma secretária ingénua é psicologicamente credível. E o seu olhar, depois da revelação de toda a verdade, não é o da culpa retrospectiva, mas o da inocência comprometida por uma determinada vontade de não saber. É a primeira história alemã, e não da perspectiva dos juízes de Nuremberga ou de outros juízes, fossem eles os da História. Daí o seu retumbante êxito na Alemanha.
Os tiques provocados pela doença do ditador, a sua cortesia paternal para com o pessoal feminino do bunker e até esse amor misantrópico pelo seu cão parecem recentrar o papel do Führer na tragédia colectiva.
Aqui a imaginação não suporta já o mito e o que vemos é apenas um velho acossado na sua loucura.
Não vemos a queda, o fim duma aventura que se pretendia grandiosa (como viram os Goebbels e outros altos dignitários), vemos a miséria humana e o castigo dos deuses.
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