"Mas um crime é qualquer coisa para que temos procedimentos – pelo menos quanto à punição, senão para preveni-lo. Dizer isto é dizer que um crime poder ser ordenado, adaptado de alguma maneira ao resto da nossa experiência. Invocar o mal a propósito duma acção é sugerir que ela não pode – e que por isso ameaça a confiança no mundo de que precisamos para nos orientarmos dentro dele."
"Evil in modern thought" (Susan Neiman)
A confiança no mundo é tão fundamental que criámos o conceito de Deus-Pai. Simone Weil diz que Deus não responde com pedras a quem lhe pede pão.
O que é que significa a figura do Pai neste contexto senão que ele é o garante de que não somos indiferentes ao mundo, nem por ele hostilizados, porque o Pai exerce uma vigilância benevolente, a que, também, poderíamos chamar sorte.
Ora a confiança no Pai pode perder-se quando o seu poder de protecção abre brecha e deixa passar os sinais de que, pelo contrário, o mundo parece querer-nos mal, que não somos verdadeiros filhos.
O mal seria assim esse sentimento de abandono e de orfandade.
Depois de Auschwitz, é essa a situação. A confiança no mundo (ou no Homem) perdeu-se, como se perde a confiança na saúde depois de uma doença grave.
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