"Esta transformação da experiência em tribuna caracteriza não só alguns textos de ficção, mas um novo 'género' televisivo, concebido para evitar a possibilidade do debate.
(…) Ao propor experiências que valem pela exemplaridade, pelo significado, pelos valores que afirmam, mas que não se limitam a afirmar 'experiências', o espaço 'público/privado' constrói-se em redor da figura central da testemunha. Podemos então falar de uma quase ditadura da testemunha (Mehl 2003)."
"Quando mostrar é fazer" (Daniel Dayan)
"Ninguém pode dizer a essa testemunha: isso não é a sua experiência; não foi isso que viveu; você não sabe realmente do que fala; conheço a sua experiência melhor que você. Ter a pretensão de isso saber seria presunçoso, fosse qual fosse o perito;" (ibidem)
Se uma imagem vale mil palavras, como se diz, uma testemunha que "esteve lá", que "sentiu na carne" vale mais do que uma dúzia de especialistas.
O problema é que o acontecimento tem de ser interpretado para ter um significado político. O que a testemunha diz sobre a sua experiência vale o mesmo que outra experiência e nunca deveria pretender à expressão da "verdade".
Tal como no processo da descoberta científica, a verdade nunca é simplesmente dada, mas socraticamente parturejada pelo confronto de ideias e pelo espírito crítico.
Sabemos já o suficiente para desconfiar da verdade das próprias imagens, pois que há, para além do mais, um enquadramento "técnico" para cada uma delas e a digitalização permite todas as contrafacções.
Mas se se trata de obter uma reacção do "Grande Animal" de que falava Platão, imagens e testemunhas são o que se recomenda. A tele-piedade é uma dessas reacções, e movimenta mundos e fundos.
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