sábado, 13 de junho de 2009

A SEGURANÇA ONTOLÓGICA



"Um facto torna-se uma catástrofe, afirma Mellencamp, quando os boletins de informações que o anunciam são autorizados a interromper o fluxo habitual dos programas de rádio e de televisão. E é esta interrupção (mesmo antes da passagem de um filme com John Wayne ou de um episódio de "Serviço de Urgência") que é em si mesma catastrófica para aqueles cuja segurança ontológica necessita, em certa medida, que sigam as narrativas ininterruptas da mediatização quotidiana."

"A mediatização da catástrofe:o 11 de Setembro e a crise do outro" (Roger Silverstone)


O rame-rame do quotidiano tem hoje um comentário mediático, um écrã iluminado ou o fluxo sonoro da telefonia e dos inúmeros gadgets individuais.

Vivemos "protegidos" por esse ambiente artificial, mas constituído pela analogia das imagens e das palavras do outro. É isso que explica que a interrupção dos programas sejam um sinal de perigo que desperta a nossa angústia.

O "E depois do adeus" e "Grândola, vila morena", de há 35 anos, cobriram o vazio narrativo e deram início a um novo regime de segurança.

A segurança. Esquecemos muito facilmente de que é a primeira das necessidades. O sono torna-nos vulneráveis, como dizia Alain, e senão queremos viver como animais acossados, temos de destacar a sentinela.

Hoje, o sinal de que existe alguém de guarda é o ruído ininterrupto dos media.

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