terça-feira, 30 de junho de 2009

SUPERVIGILÂNCIA


http://www.bdavetian.com/panopticon.jpg


"'Desde que tenhas uma câmera, queres ver no canto mais próximo', Lyon (David Lyon) cita um colega como tendo dito: 'A seguir queres ver também no escuro, por isso acrescentas uma câmera de infra-vermelhos. Depois queres ver com mais detalhe e juntas-lhe lentes com um zoom mais potente. E então pensas: se eu pudesse ouvir o que eles diziam também! e acrescentas microfones direccionais mais potentes à tua câmera.' Em última análise, a insaciabilidade do olhar omnipotente conduziu a Mass Observation (*) a resvalar da observação para a manipulação."

"Distracted" (Maggie Jackson)

(*)This organisation was founded in 1937 by three young men, who aimed to create an 'anthropology of ourselves'. They recruited a team of observers and a panel of volunteer writers to study the everyday lives of ordinary people in Britain.

Como se inspirada nas profecias de Jeremy Bentham (1748/1832) e no seu Panopticon (uma prisão circular com as celas em volta duma torre de observação), a nossa sociedade vem-se apetrechando dos dispositivos necessários ao exercício dum controle visual ininterrupto sobre si própria.

"No século dezoito, um médico podia ainda diagnosticar a diabetes, a falha renal e outras doenças pelo cheiro, mas com o tempo, essas proezas sensoriais esmaeceram à medida que o olho se tornou o árbitro da verdade."
(ibidem)

E como se o programa de vigilância se reproduzisse dos órgãos até às células sociais, a citação dá conta duma tendência para a monitorização das crianças, para seu bem e para os pais se poderem sentir mais seguros.

Em Portugal, essa tendência dá agora os primeiros passos. Começa-se por querer localizar, com o GPS e o telemóvel, o paradeiro das crianças. E tudo isto é tão natural e compreensível que o contrário, o correrem-se riscos desnecessários, é que parece monstruoso.

A verdade é que a tecnologia está a mudar os dados do problema, e aquilo que era um sinal de liberdade e autonomia, hoje, só porque é possível condicionar ou manipular os movimentos dos outros através de formas mais sofisticadas, parece-nos uma negligência e uma falta imperdoável.

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