Cristina Campo (1923/1977)
"De resto, como já foi observado, o sincretismo mata os termos que envolve, e uma condenação de tudo o que não coincide com a tradição que se escolheu é um confronto quase mais salutar, sendo o zelo violento um sinal de fervor, de heróica resolução em prosseguir o caminho na via da purificação.
E no entanto (ou - o que é frequentemente o mesmo – precisamente por isso) "só a ortodoxia pode falar com a ortodoxia" (Marcos Pallis), e isso é muito melhor, vemo-lo todos os dias, que todas as patéticas alquimias que procuram transformar a unidade em união."
"Sob um falso nome" (Cristina Campo)
Este texto terá sido escrito há mais de trinta anos, e sabemos hoje que apesar da advertência foi a inclinação para o sincretismo e o "mito cândido" (M. Pallis) de transformar a unidade em união que prevaleceram na cultura americana e europeia.
Temos no nosso panorama político-religioso o exemplo do oposto no partido comunista e na Igreja católica que, depois de sofreram os efeitos da erosão previsível, conseguiram manter a sua identidade contra ventos e marés. Claro que não haveria, por exemplo, progresso científico se toda a sociedade fosse "ortodoxa". É porque a democracia consegue conviver com as organizações "estáticas" e com a liberdade e a quase desorganização que existe um terreno propício ao progresso das ideias.
Mas devemos também estar cientes de que na ausência de pontos fixos, de visões do mundo consolidadas, a liberdade não teria o objecto resistente que lhe permite encontrar uma direcção.
Karl Popper gostava de dizer que as definições não são importantes e que deveríamos sempre partir dos problemas. Mais do que tentar "dialogar" com a ortodoxia, dentro dum espírito de tolerância que, bem vistas as coisas, pode chegar a ser ofensivo, e que, de qualquer modo foi atacado pela doença senil do politicamente correcto, é sobre os problemas que o confronto de visões diferentes ou antagónicas pode ser fecundo.
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