sexta-feira, 19 de junho de 2009

O GARFO



"Conjuntos de talheres individuais não eram fornecidos pelos anfitriões até aos finais de 1600s, embora alguns nobres, homens e mulheres, viajassem com os seus. Isabel I tinha garfos mas preferia os dedos, tal como Luís XIV. A longa e demorada infiltração do garfo na vida Ocidental espelha por parte da sociedade a crescente valorização do indivíduo auto-consciente (self-conscient). Importado para Itália por uma princesa bizantina, o garfo, tanto pela sua aparência satânica como por distanciar os comensais do divino dom dos alimentos, mereceu resistência, acrescenta Goldstein ("Implements"). (A Igreja Católica, especialmente, opôs-se à sua adopção.)

"Distracted" (Maggie Jackson)


O individualismo moderno tem, pois, inúmeras fontes e um percurso longo e sinuoso que passa por coisas tão triviais como o uso do garfo, em vez dos dedos. A separação do colectivo vai a par duma maior consciência do corpo e da "naturalização" da sexualidade. O complexo de Édipo, em relação ao conceito de instinto e de concupiscência, reflecte bem essa autonomização do indivíduo.

Por tudo isso, embora o sistema tenha exacerbado esse espírito e essa tendência, o capitalismo é que não poderia existir sem eles.

No caso da oposição da Igreja à introdução do garfo por motivos puramente simbólicos, quase poderíamos falar, não em presciência, naturalmente, mas em fidelidade linguística. O garfo, de facto, pertencia a outra língua.

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