"Primeiro, só a nudez desse corpo esbelto o tinha deslumbrado. A impressão tinha sido a mesma que teria sentido diante da beleza ainda pura de toda a sexualidade duma rapariga muito jovem. Ele ficara estupefacto, subjugado. E era a irresistível pureza irradiando daquele minuto que tinha dado às suas relações com Basini a aparência duma inclinação, este sentimento novo, esta inquietude maravilhosa."
"Les désarrois de l'élève Törless" (Robert Musil)
Distingue-se aqui o mecanismo da culpabilidade que levou Törless, entre relutante e fascinado, a participar nas cenas de crueldade imaginadas por Beineberg e Reiting, crueldade infligida sobre Basini, o estranho, masoquistamente identificado com o seu destino de vítima.
Musil distingue o efeito encantatório da nudez desse jovem, não só da sexualidade como da "secreta e melancólica sensualidade sem objecto da adolescência, que se assemelha à terra escura, húmida, maternal da primavera e a essas obscuras águas subterrâneas que aproveitam o primeiro pretexto para romperem os seus diques."
A beleza tão comovente daquela nudez ocupou o lugar do "objecto perdido", mas não se podia confundir com ele. E a impressão de Törless também nunca mais se repetirá com a mesma força, porque a próxima epifania será marcada pelo fracasso e pela incoincidência.
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