"The Conversation" (1974, Francis Ford Coppola)
Harry Caul (Gene Hackman), o perito em vigilância de "Conversation" (Francis Ford Coppola, 1974), grava a conversa dum jovem casal numa praça movimentada e, por algumas frases que consegue extrair do ruído de fundo (tal como a na ampliação do fotógrafo de Antonioni) deduz que o homem que lhe paga para vigiar a mulher tem um plano para assassinar os jovens.
Caul é católico e carrega o remorso de não ter intervindo num caso semelhante uns anos atrás. Mas, afinal, é o contrário que acontece (o seu cliente é que é assassinado) e Caul torna-se uma testemunha perigosa. É avisado de que todas as suas palavras serão registadas. Com uma precisão maníaca, Caul desfaz o seu apartamento à procura dum microfone como aqueles que tantas vezes instalou por conta de outros. O aviso talvez tenha sido bluff, mas a única maneira de poder ainda dedicar alguns momentos ao seu instrumento de sopro preferido é passar a viver numa casa desmontada e nua. Afinal, a imagem do desconforto da sua alma solitária.
Rohmer, num dos seus contos morais, citava um provérbio chinês que condenava à loucura o homem que vivesse em duas casas. Aquele que não pode confiar em ninguém não tem uma verdadeira casa e enlouquece ainda mais depressa.
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