domingo, 7 de junho de 2009

DETROIT NA UNIVERSIDADE


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Don Tapscot (ver Edge), em "The impending demise of the university", detém-se nessa questão a que nenhuma sociedade moderna consegue escapar: a da função da universidade. Tal como a indústria automóvel americana é hoje um gigante atingido pela obsolescência, cujo símbolo é a cidade de Detroit, o articulista fala numa Detroit do ensino superior e na falta de mercado para a maioria das instituições, na crescente desactualização do que se aprende (o que se aprendeu há quatro anos é já obsoleto) e, enfim, nos incríveis recursos da Web que permitem a qualquer aluno assistir através do YouTube a uma lição magistral, o que tornaria supérflua a função do professor que se limita a "emitir" (broadcast), contando com a recepção passiva do aluno.

Ora, a ideia de que a existência duma fonte inesgotável e democrática de conhecimento, a que se poderia aliar um carácter lúdico da aprendizagem, é uma condição suficiente para a transmissão do conhecimento entre as gerações é uma ideia "romântica". Antes da Internet, as bibliotecas estavam à disposição de quem quisesse aprender, mas nunca se julgou que isso bastasse para a educação da maioria dos jovens. Há-de existir uma coisa chamada obrigação para nos levar até onde a nossa vontade desamparada não alcança.

É verdade, por outro lado, que sendo a nossa memória o que é e sendo iniludíveis a expansão do conhecimento e a permanente desactualização do saber, o que se aprende na universidade há-de ser cada vez mais uma aptidão para saber onde está aquilo que procuramos, o contexto de determinada descoberta científica ou a passagem dum romance que nos ajuda a compreender uma situação psicológica.

Um aluno que passou todas as provas universitárias, mesmo se lhe serve de pouco a matéria que aprendeu ou se esta já não é válida passados quatro anos, sabe orientar-se e actualizar-se melhor do que qualquer outro e adquiriu os hábitos necessários a uma vida profissional, coisa que a "actividade colectora" na Internet, sem quaiquer obrigações, não lhe pode dar.

Claro que a relação entre o professor e o aluno já não pode ser, simplesmente, a de emissor-receptor. Mas a conversação que o autor preconiza não é compatível com programas rígidos, audiências massivas e pessoas desmotivadas.

Não está adquirido que se consiga sempre passar a herança, porque a morte das culturas está-lhes nos genes. Por isso, esse é talvez o nosso maior desafio.

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