"Onde o canto do ofício divino, diurno e nocturno, alternam com os trabalhos nos campos, onde os alimentos eram vegetais, e se dormia em cima da palha e das cinzas, e ninguém falava, desde o dia da tomada do hábito até ao dia da morte. Uma Trapa normal, no fundo, onde era necessário entre outras coisas, moderar as austeridades individuais para que os cenobitas não se inebriassem para lá da medida. 'É preciso ser testemunha para fazer uma ideia do contentamento, do júbilo de todos: nada prova melhor a felicidade desta vida do que aquilo que fizeram os trapistas para se reunirem de novo após a sua expulsão da França, e a quantidade de mosteiros que foram criados, até no Canadá.'"
(Chateaubriand, "Génie du Christianisme", citado por Cristina Campo)
Apesar de tudo, que estranho é este resultado da austeridade mais estrita e da negação continuada dos impulsos mais naturais, como o de comunicar com os outros através da palavra. Não é, naturalmente, a sociedade que é negada pelo voto de silêncio, porque no mosteiro preside o espírito da colmeia, e é de prever que o obstáculo levantado à fala seja compensado por grandes subtilezas na expressão dos gestos, do olhar, etc.
A Trapa não é um exemplo de que nos habituamos a tudo, mas de que, quaisquer que sejam os entraves (e em certa medida por causa deles), o prazer é essencial às nossas vidas qualquer que seja a forma de que se revista, ao ponto da regra prevenir contra os excessos da austeridade…
Como na célebre parábola oriental, até o homem que cai na rede do tigre estende a língua para recolher a gota de mel.
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