domingo, 8 de março de 2009

SÓ O RESTO SE SALVA




"É o que me impressiona em Paulo. É o que se encontra na Bíblia, na figura do profeta: o profeta fala sempre dum resto de Israel. Ele dirige-se a Israel como um todo, mas pronuncia 'só um resto será salvo' (...). O resto ou o que fica não é aqui uma porção numérica, mas a figura que cada povo deveria assumir no instante decisivo - neste caso, salvação ou eleição, mas qualquer outro instante também"

"Giorgio Agamben em entrevista à Vacarme"


Que distinção é esta que não corresponde à que existe entre a minoria e a maioria? Numa divisão, o resto é uma categoria em si, distinta do divisor e do dividendo.

Por um lado, não se pode entender o resto senão como residual, por outro, ele é o princípio duma nova operação.

A imagem é feliz aplicada à salvação. Porque os salvos são um grupo à parte, embora o profeta se dirija a todos. Há uma divisão a fazer que salva precisamente os que sobraram.

Agamben cita Marx, que em carta de 1843 a Arnold Ruge, diz: "Você não dirá que eu tenha o presente em grande estima, e se eu não desespero dele, é só porque a sua situação desesperada me enche de esperança."

Não é como se Marx estivesse a pensar no resto da divisão (a crise)? A esperança de que ele fala, porque a situação é desesperada, é metafísica e deduz-se das "leis históricas", como o resto das divisões imperfeitas.

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