"Isto é, no fundo, o que me agrada em Simondon (Gilbert Simondon 1924/1989); ele pensa sempre a individuação como a coexistência dum princípio individual, pessoal e um princípio impessoal, não-individual. Por outras palavras, uma vida é sempre feita de duas fases ao mesmo tempo pessoal e impessoal. Estão sempre em relação, mesmo se se encontram claramente separadas. A ordem do poder impessoal com que toda a vida se relaciona podia chamar-se impessoal, enquanto que a dessubjectivação seria essa experiência diária de nos confrontarmos com um poder impessoal, qualquer coisa que nos ultrapassa e ao mesmo tempo nos dá a vida."
"Giorgio Agamben em entrevista à Vacarme"
Se nos quisermos referir à ideia de Deus, então ele está do lado do impessoal e não do da pessoa. O "que nos ultrapassa e ao mesmo tempo nos dá a vida", seja isso o que for, não pertence ao mundo do sujeito. E devemos incluir na ideia egocêntrica todas as reduções e simplificações da realidade.
Quando a subjectividade é o nosso único modo de ser, precisamos de todos os "privilégios" da consciência, para continuar, mesmo depois de Deus, no centro do universo.
A transcendência dos sistemas em relação ao indivíduo é ainda uma perspectiva demasiado humana, o inter-subjectivo (a comunicação de Luhmann) servindo de relais à consciência individual.
Pessoal e impessoal estão de facto indissoluvelmente ligados, mas não está ao nosso alcance a perfeição do impessoal, que seria algo de muito parecido com o que Simone Weil comparava à "obediência" da matéria.
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