"A vocação de S. Mateus" (Caravaggio)
"Às vezes digo para mim mesma que bastava afixarem à porta das igrejas que a entrada era proibida a quem quer que usufruísse dum rendimento superior a tal ou tal soma, pouco elevada, para me converter imediatamente."
"Lettre à George Bernanos" (Simone Weil)
Este espírito radical é bem característico de Simone Weil. A dar-lhe razão, a Igreja deveria ser, verdadeiramente, a Igreja dos pobres. Tal como o pároco do "Journal d'un curé de campagne" que só frequenta os bem instalados na vida para os escandalizar.
Não é isso que diz o gesto imperioso do Cristo no mais belo quadro do mundo, "A vocação de S. Mateus"? Caravaggio mostra-nos o futuro apóstolo "com a mão na massa" (ele era cobrador de impostos), "perdido nas trevas", quando a figura tornada quase invisível pelo corpo interposto de Pedro o chama, com um pé já na direcção da porta, para o "caminho da luz".
Mas alguns acreditam que não tem de haver sempre pobres. O progresso (e o rendimento mínimo) se encarregará de que a pobreza seja apenas relativa e que ninguém mais terá de passar fome ou de ser humilhado. A missão da Igreja, então, pode prescrever, e a salvação será sempre neste mundo e poderá ser controlada como qualquer objectivo quantificável.
Por isso, o exagero de Simone, duma Igreja indexada ao rendimento, só pode ser compreendido se a pobreza não for apenas um conceito económico.
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