quarta-feira, 11 de março de 2009

A REALIDADE DO INACTUAL



"É muito provável que se os homens 'se colassem à realidade', matariam menos os semelhantes, mas já teriam certamente morrido de frio. Nós, animais desnaturados, temos o dom, ou o defeito, de nos alhearmos do presente, e encontrar mais presença no futuro ou no passado. Agarramos os indivíduos físicos através das pessoas morais - raças, nações ou partidos."

"O Fogo sagrado" (Régis Debray)


Se não nos podemos "colar à realidade" ( e há muitas maneiras de exprimir essa impossibilidade, como, por exemplo, considerar a língua materna como a nossa pátria ou a "Casa do Ser"), que realidade é essa a que temos de nos referir sempre que nos encontramos no ar condicionado dos laboratórios ou pensamos com toda a tradição científica?

Porque, evidentemente, a fria razão pode tornar-nos mais objectivos, mas não nos permite escapar à apropriação do objecto na linguagem.

E não é por isso que só o passado ou o futuro são "reais", na medida em que podem ser ditos e que o presente é tudo o que somos, mas por isso mesmo não pode ser dito?

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