"'(...) quanto a flores, ele não tinha visto ainda nenhumas, não era capaz de distinguir entre a malva e a malva-rosa. Fui eu que lhe ensinei - Você não vai acreditar - a reconhecer o jasmim.' E tinha de admitir que era um pensamento curioso que o artista citado por todos os conhecedores como o pintor de flores mais conceituado dos nossos dias, superior até a Fantin-Latour, nunca teria talvez, sem a ajuda da mulher que se encontrava sentada ao meu lado, sabido pintar um jasmim."
"Le Temps Retrouvé" (Marcel Proust)
Ou melhor dito, não saberia talvez que estivesse a pintar um jasmim. Porque nunca perguntei a um jardineiro, só muito tarde soube como se chamava uma das flores mais comuns nos nossos jardins: o agapanto. Se fosse pintor, o desconhecimento do nome não me teria impedido de pintar esses caules de girafa. Podia chamar à composição isso mesmo.
Na pintura, estamos num reino independente da natureza. Mesmo se Proust achava que cada grande artista introduz uma óptica nova, fazendo-nos experimentar outras lentes para vermos o mundo, estamos ainda do lado das formas e não do da "realidade".
Que ridícula presunção a da Verdurin de se julgar uma espécie de chanceler das etiquetas da Arca!
0 comentários:
Enviar um comentário