Le Grand Trianon (peristilo)
"Embora o lugar onde ele se despia estivesse muito iluminado, o capelão de dia, que tinha durante a sua oração da noite um castiçal aceso, entregava-o depois ao primeiro criado de quarto que o levava à frente do Rei quando se encaminhava para a sua poltrona. Ele lançava um olhar em redor e nomeava em voz alta um dos que ali estavam, a quem o primeiro criado de quarto cedia o castiçal. Era uma distinção e um favor que tinha o seu valor, tanto o Rei possuía a arte de dar existência a nadas."
"Mémoires" (Duque de Saint-Simon)
O tom desta "bagatela" que serve para caracterizar o rei é inequivocamente crítico.
Luís XIV ficou zangado com o duque desde a carta de demissão deste, alegando a pouca saúde, mas na verdade por ter sido preterido numa promoção.
O monarca sentia-se suficientemente picado para não dar a entender o seu desagrado. De modo que, para grande surpresa do próprio, o chamou várias vezes para pegar no castiçal na cerimónia de se deitar. E, para marcar que só o marido incorria nesse desagrado, chegou a convidar a duquesa (sem o duque) para as ceias no Trianon.
Estes "nadas" concedidos pelo Rei são hoje quase incompreensíveis por não terem expressão monetária. Mas devemos ter em mente que a corte de Versalhes imitava o sistema solar na gravitação dos cortesãos à volta do soberano, mas que dele se distinguia por aí ter curso uma hierarquia fundada na proximidade e no reconhecimento.
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