"Dê uma olhada neste Nicholson. O equilíbrio é excepcional. Quadrados de cores diferentes. E, no entanto, convivem na mais perfeita harmonia. Sem qualquer atrito. O homem tem um olho maravilhoso. Basta mudar uma das cores, até mesmo o tamanho de um quadrado, para que o equilíbrio desapareça. Percival apontou para um quadrado amarelo e acrescentou: Aqui está a sua Secção 6. É o seu quadrado, daqui para diante. Não precisa de se preocupar com o vermelho nem com o azul."
"(...) Uma acção nada tem a ver com as suas consequências. É isso que está a dizer?
- As consequências são decididas noutra parte, Daintry."
"The Human Factor" (Graham Greene)
É a teoria das casotas. Cada um na sua casota não tem de se preocupar com o que se passa nas outras. E, como vimos, até as consequências podem ser separadas dos actos iniciados numa casota e endossadas a outra, como no "outsourcing". É a perfeita desculpabilização. A organização é o único princípio soberano.
No romance de Graham Greene trata-se dos Serviços Secretos ingleses, mas podia ser qualquer outra organização que assumisse a responsabilidade pelo indivíduo mediante a perfeita fidelidade e obediência ao "nós" do colectivo. Nos partidos em geral e no chamado "centralismo democrático" em particular existe a mesma transferência de responsabilidade.
O doutor Emmanuel Percival é o encarregado das autópsias, quando não a causa de ter de haver algo parecido com uma autópsia, como acontece com o infeliz Davis.
Daintry, o inspector, não é grande apreciador da arte abstracta. Nem consegue ver a relação entre uma harmonia de quadrados coloridos e homens de carne e osso como Castle ou Davis.
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