quinta-feira, 19 de março de 2009

A MÚTUA IGNORÂNCIA


George Akerlof


"Deveríamos esperar que um sistema de seguros privados fosse uma manta de retalhos. Algumas pessoas com despesas mais prementes do que o seguro de saúde (por exemplo, os jovens pobres, que têm pouco dinheiro e justamente conjecturam que não será provável que fiquem seriamente doentes) cairão fora do sistema. Como resultado, as companhias de seguros de saúde, precisando de cobrir os custos, aumentarão mais os prémios para o cliente médio, empurrando mais gente para fora. Contrariamente ao modelo dos "limões" (George Akerlof), o mercado não entra em colapso completamente; isto deve-se em parte a muitas pessoas acharem que os riscos de terem de pagar por tratamento médico são tão preocupantes que estão dispostas a pagar substancialmente mais do que um prémio actuarialmente justo."

"The Undercover Economist" (Tim Harford)


Eis por que os E.U.A. gastam mais com a saúde de que qualquer outro país desenvolvido e com piores resultados. O autor apresenta este caso como um exemplo de "inside information", uma das causas por que os mercados não funcionam. Não é possível, aqui, aplicar-se o sistema de seguros porque a parte que mais poderia contribuir para o seu financiamento se auto-exclui por pensar que corre menos riscos de adoecer.

Com o desenvolvimento da informação, da integração e do cruzamento de dados, parece que a tendência será a deste tipo de seguros ser cada mais exclusivo e de ter cada vez menos a ver com o conceito de seguro. Como diz Tim Harford, "o seguro depende da mútua ignorância", logo, "qualquer avanço na ciência médica que faça recuar as fronteiras da ignorância, tanto para os seguradores como para os segurados ou ambos, enfraquecerá a base do seguro. Quanto mais sabemos, menos podemos segurar."

Por pouco teríamos de conotar este negócio com a magia e o obscurantismo... Mas a verdade é que o risco está sempre presente nas nossas vidas e que a sorte continua a decidir grande parte do nosso destino. Se não fosse essa grande incerteza não haveria seguros na terra nem no céu.

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