sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O INTENDENTE


O castelo de Nicolas Fouquet (Vaux-le-Vicomte)


"Arranjo um gerente, ou um intendente. As coisas que possuo já não estão diante dos meus olhos; são representadas num livro de contas; e é aí que as coisas começam a correr mal. O gerente ganha à minha custa de mil maneiras. Vende mal e dar-me-á mil razões; a verdadeira razão é que ele se associou com o comprador e recebe um prémio por todos os maus negócios que faz. Paga os trabalhos muito caro pela razão de estar feito com o empreiteiro. Repara, faz novo, porque, por um lado, é comerciante dessas coisas que compra para nós. Coisas inúteis? De modo nenhum. Ele prova-nos que são úteis. E nós acreditamos: porque é para acreditar nele que lhe pagamos."

"Propos d'Économique" (Alain)


Esta é, segundo Alain, a maneira de ser rico sem preocupações, sem ter de vigiar de perto o seu cabedal e as variações atmosféricas ou de mercado que o podem pôr em risco e sem ter chatices com os sindicalistas. É isso que vemos continuamente porque os ricos que trabalham e aplicam o seu engenho contam-se pelos dedos. Foi por esse absentismo que se perdeu a aristocracia europeia, arruinada pelos seus intendentes.

Hoje vemos, ampliada pela crise, a devastação causada por esta mentalidade. O Estado, como o maior dos rentistas, é o que mais oportunidades oferece aos novos intendentes.

Luís XIV mandou prender o seu ministro das finanças, Nicolas Fouquet, quando viu que o luxo em que este vivia ofuscava o do próprio rei.

E ainda há quem pense que os ricos preguiçosos são o inimigo de classe...

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