Em "O estranho caso de Benjamin Button" (2008-David Fincher), inspirado num conto de Scott Fitzgerald, pode acontecer que os chamados efeitos especiais, que aqui marcam uma época, passem desapercebidos, tal é a sua perfeita integração no filme.
Se me dissessem que o velho Benjamin, mirrado como a nêspera do Mário-Henrique Leiria, era o produto do mais sofisticado dos make-up, não acreditava. Tinha de ser um outro actor com um outro corpo. E, de facto, a verdade é um pouco essa: não é o corpo de Brad Pitt, mas o dum outro e em vez da maquilhagem colaram-lhe o rosto digitalizado do actor do "Seven" que reflecte, maravilhosamente, a regressão da personagem da muleta para os cueiros.
Perante esta proeza, que abre incríveis possibilidades à edição cinematográfica e à quase desmaterialização dos actores, com uma, não sei se boa ou má, maior independência em relação a eles dos cineastas, por pouco me esqueço de que este é um filme impressionante sobre todos os outros aspectos. Mas pensemos só em como o fracasso da técnica tornaria pouco mais do que ridícula esta reflexão sobre o tempo e a precariedade do amor.
Benjamin Button nasce com o aspecto dum septuagenário paraplégico e morre como um rosado bebé. Em certa altura desta vida a correr ao contrário tem a mesma idade aparente de Daisy (Kate Blanchette). É o momento perfeito que ele quer recordar com ela diante dum espelho. Mas o tempo pressiona e esse amor está destinado a ser ultrapassado pelo tempo que foge para trás no caso de Benjamin.
Como aquele relógio na central dos comboios, o amor está contra o tempo. Esta fábula vem sugerir-nos que realmente não envelhecemos ao mesmo tempo, mesmo se é na mesma direcção. E o amor está sempre em risco na mudança de tudo em todos.
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