quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

DE CÍNICOS E ECONOMISTAS


Oscar Wilde


Oscar Wilde definia nestes termos um cínico: um homem que sabe o preço de tudo e o valor de nada. Daí, outros acharam que essa definição se podia aplicar também aos economistas.

Tim Harford ("The Undercover Economist"), de quem colhi a citação, explica porque falhou, no caso das licenças de espectro de rádio para os telemóveis, nos Estados Unidos, nos anos 90, a teoria dos jogos tentada pelo governo americano para obter o melhor preço. As companhias de telecomunicações simplesmente encontraram um meio de comunicar umas às outras as suas intenções e de estabelecer compensações mútuas ("este esquema nem sequer exigia um acordo - ilegal - porque o leilão permitia sinais tão claros como estes".)

Parece que o governo se enganou no jogo em que apostou, pois havia um outro jogo dentro do jogo. Se se pudesse prever isso, poderia ter sido útil a teoria de Von Neumann e John Nash.

No fundo, trata-se duma situação típica. As nossas previsões não podem ter em conta todos os factos relevantes, em primeiro lugar, porque eles são desconhecidos. Podemos apenas projectar o que já sabemos.

E é aqui que um economista se pode parecer com um cínico, pois a sua ciência, não podendo descrever a realidade, não deixa de presumir a capacidade de a antecipar, mesmo quando a descrição é acompanhada de uma prudente condicional. Tal como o cínico que não acredita em nada, a não ser nessa sua negação, o economista só acredita naquilo que a realidade constantemente desmente.

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