quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

DE ALMOFADAS E ESTEIRAS


Felipe V de Borbón Rey de España


"Nos aposentos da rainha, as mulheres dos grandes têm uma almofada de veludo, e as suas noras uma de damasco ou de cetim, sem ouro nem prata. Elas sentam-se em cima. Todas as outras, qualquer que seja a sua distinção, ficam de pé ou simplesmente sentam-se no chão. Mas, em Espanha, não se vê em nenhum lado o soalho; todos estão cobertos de belas esteiras de junco que lhes são características. O fogo não lhes pega; são muito finas, frequentemente trabalhadas de paisagens a negro e amarelo e de outras coisas, expressamente preparadas para o local. Duram uma infinidade de anos, e há algumas caríssimas. Varrem-se, algumas vezes retiram-se para as sacudir; nada é mais limpo nem mais cómodo."

"Mémoires" (Duc de Saint-Simon)


Saint-Simon é um meticuloso analista dos costumes. Sabemos por ele, por exemplo, as fórmulas usadas numa cerimónia de "cobertura", quando é preciso repetir perante dezenas de cortesãos a mesma coisa - e não passa pela cabeça de ninguém o mau gosto de variar no mínimo que seja. Conhecemos o lugar de cada um, marcado como no teatro, e o que tem de fazer. O rei e a rainha limitam-se às vezes a responder com um aceno da cabeça às rituais curvaturas. Depois abandonam a sala quase sem proferir palavra.

Como no Japão tradicional, as damas sentam-se por terra e "levantam-se com uma flexibilidade, uma graça e uma prontidão, mesmo as mais velhas, e sem apoio nenhum, o que me surpreende sempre."

No teatro (na comédia, diz o duque) as señoras d'honor, as camareiras, não se sentam de outro modo, e não tendo o direito a sentar-se no tamborete, mesmo que algum se encontre vazio, apoiam nele somente as costas, de rabo no chão.

A nota sobre higiene das esteiras faz sorrir. É que o nosso mundo mudou de lentes e consegue "ver" os micróbios.

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