Louis-Antoine Léon de Saint-Just (1767/1794)
"Sempre gostara de consultar, desde a mais tenra idade, os oráculos da morte. Já falámos das bizarrias da sua mocidade, como, no meio duma cidade de província muito corrupta, de uma escola de direito dissoluta, no meio das seduções íntimas, no meio duma imaginação lúbrica, ele forjara um refúgio, um quarto forrado de negro e de brancas caveiras, que habitava sozinho, a certas horas, com os grandes mortos da Antiguidade. Foi, sem dúvida, ali que lhe apareceram as palavras que fizeram a sua vida: 'O mundo está vazio desde os romanos.'"
"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)
Este é o retrato de Saint-Just, o Anjo da Morte, mais coerente na sua visão homicida do que o mestre incorruptível. Mas o verdadeiro incorruptível é este jovem de 26 anos que aparece tarde na Revolução para silogisticamente a precipitar no abismo.
O seu fanatismo, como vemos, é o fruto amadurecido duma ascese, duma separação violenta do mundo, como a dos futuros terroristas nas suas células, e duma transfiguração do passado que aqui faz literalmente jus à afirmação de Comte de que são os mortos que nos governam.
A grandeza de Roma é uma alucinação que estende, aos olhos do revolucionário, o deserto à sua volta. E a vida não tem qualquer valor quando se trata de estar à altura de mortos que nunca existiram.
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