quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O FANATISMO


A Guerra dos Trinta Anos


"O Terror de Robespierre mostrou a Kant que, mesmo sob o signo da liberdade, da igualdade e da fraternidade, podiam ser perpetrados os crimes mais hediondos, crimes tão abomináveis quanto os que haviam sido outrora, na época das cruzadas, da caça às bruxas ou da guerra dos Trinta Anos, em nome do Cristianismo. Kant elaborou uma teoria a partir da história do regime de terror da Revolução Francesa. Esta teoria, nunca é de mais repeti-lo, é a de que o fanatismo é sempre um mal e incompatível com o objectivo de uma ordem social pluralista; é nosso dever opormo-nos ao fanatismo sob qualquer forma - mesmo quando os seus fins sejam eticamente irrepreensíveis e, sobretudo, se esses fins forem os nossos próprios fins."

"Conferência proferida na Rádio da Baviera em 1961" (Karl Popper)


Os que mataram, durante o Terror de 93 e 94 do século dezoito, pagaram, ao menos, o seu zelo criminoso com a própria vida, visto que também eles puseram a cabeça na invenção do doutor Guillotin. E como para justificar a tese freudiana dum crime inexpiável na origem da cultura, os jovens da horda primitiva matando e devorando o pai, a Revolução Francesa é um acontecimento de fundação como o foi o nascimento de Roma.

E o fanatismo, hoje tão invocado como uma das causas que alimentam as guerras por todo o planeta, o que é e como se fomenta? Por que de nada servem as lições do passado?

Será fanático o homem duma só ideia, que a persegue com toda a alma, que lhe dedica a própria vida? Então teríamos de considerar fanáticos grandes nomes da ciência e das artes que se esqueceram de ser "práticos" e realistas para se deixarem absorver por essa ideia.

A diferença entre esta paixão e a daquele que, "imbuído do olhar de Deus", combate até ao extermínio os que considera infiéis está no objecto dessa obsessão, e é claro que há muito de loucura em uns e outros.

Ora, sem as paixões não podemos viver. Elas fazem parte da nossa natureza. Mas já desde Descartes, pelo menos, sabemos que há um emprego útil da paixão e que não se trata de sufocá-las ou reprimi-las, mas de as "reencaminhar".

Infelizmente, as sociedades fechadas encontram-se envenenadas pelo próprio ar que respiram.

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