1928 - The Great Depression
"Este céu abstracto dos trusts, das máquinas e da racionalização, depressa fica carregado de nuvens, como um ar agitado e sobreaquecido; o raio cai; a multidão abriga-se; estranha limpeza destas ruas, envernizadas como o tampo dos móveis. Não é a primeira vez que os nossos Desejos Pensantes nos enganam; não é a última. E esta confusão das ideias, tão bem remunerada, tem grandes consequências. A guerra, nomeadamente, está-lhe associada; porque toda a gente compreende que a miragem da vitória é capaz de fazer aguentar um pouco mais a enlouquecida indústria; e, no fundo, desde que se espera escapar à severa lei das trocas, a conquista é o verdadeiro meio de enriquecer."
"Propos d'Économique" (Alain)
Tal como aconteceu no fim dos anos vinte do século passado, da América, onde ontem ainda íamos "aprender o segredo deste movimento acelerado de produção e de despesa, que dava prosperidade, concórdia e poderio", veio a tempestade e todos correm aos abrigos.
A confusão de ideias de que fala o filósofo é a mesma e alguns continuam a prosperar graças a ela. Mas todos acreditaram, dum modo ou de outro, no milagre da multiplicação dos pães.
Culpar o sistema económico é o mais fácil. Desobriga-nos de pensar no nosso papel de embarcadiços do Desejo Pensante. Porque se há predadores, nem todas as vítimas foram involuntárias. A ideia de sistema devia ser levada até ao fim para ser útil. Teríamos de encontrar, por exemplo, a razão estrutural da acção catastrófica de alguns dos protagonistas. Mas se queremos evitar o escolho do anti-humanismo, impõe-se relevar o papel das ideias e o facto de certas coisas só poderem acontecer em "águas turvas".
Porquê tanta credulidade? Esse é o ponto.
Talvez a mágica económica seja, para começar, apenas uma das consequências da demissão do pensamento politico.
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