"Aquilo que se chama terrorismo insere-se na alteração estrutural da opinião pública na era da mediatização total. Quem quisesse realmente combater o terrorismo teria de cortar as suas raízes, que mergulham no fascínio que os comediantes do terror e o seu público sentem relativamente à morte - e isso seria chocar com as leis do divertimento globalizado."
"Palácio de Cristal" (Peter Sloterdijk)
De facto, encontramos uma grande união de esforços por parte dos vários actores, no contexto do terrorismo, para dar a este fenómeno uma dimensão quase metafísica.
Sloterdijk chama-lhe comédia do inelutável, que leva, depois do 11 de Setembro, por exemplo, os viajantes a terem de "sacrificar às exigências da limitação do risco nos transportes aéreos os corta-unhas que levam na bagagem de mão."
Este exemplo de diabolização miniatural (do corta-unhas) dá a medida da profundidade da nossa imersão na atmosfera mediática que, para provocar o frisson nos consumidores do "palácio de cristal", é atravessada, de quando em vez, e em doses homeopáticas, pelo raio da morte.
Funciona, pois, uma bolsa de segurança que é tão susceptível aos movimentos da opinião quanto a bolsa de valores.
E também não podemos dizer que a imaginação securitária seja independente dos corretores mediáticos.
Pode ser que, como o provaria a aparente união de esforços, o palácio globalizado precise que alguém lhe parta os vidros de vez em quando.
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