"Não é provável, pergunto, que toda a economia do universo seja conduzida por uma semelhante necessidade, apesar de nenhuma álgebra humana poder fornecer a chave que resolve tamanha dificuldade? E em vez de se admirar a ordem das coisas naturais, não pode acontecer que, pudéssemos nós penetrar na natureza íntima dos corpos, veríamos claramente porque é que era absolutamente impossível que eles pudessem alguma vez admitir qualquer outra disposição?"
"Diálogos sobre a religião natural" (David Hume)
Este argumento nasce duma analogia com a aritmética e de algumas das suas leis, como a dos produtos de 9. "Para um observador superficial, uma regularidade tão maravilhosa pode ser admirada como o efeito do acaso, ou do desígnio, mas um algebrista hábil e competente conclui imediatamente que isso é obra da necessidade e demonstra que tal deverá sempre resultar da natureza destes números."
Acreditar que uma mesma necessidade se encontra nos números e em todo o universo permite menos a Fílon, personagem deste Diálogo, prescindir da hipótese de Deus ou de uma causa primeira do que libertar o seu espírito do espanto (thaumazein, origem da filosofia, segundo Aristóteles).
É a atitude de Lucrécio que decide expulsar os deuses da Natureza.
E a analogia é pertinente por isto: o universo está de facto presente no nosso cérebro sob a forma de relações espaciais que a matemática traduz sem falha alguma.
Podemos, portanto, conceber um espírito capaz de ir muito mais longe, graças a qualquer coisa como um cérebro mais desenvolvido. Não podemos, contudo, afirmar que exista uma necessidade como a das leis da matemática fora dos processos cerebrais.
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