terça-feira, 30 de setembro de 2008

CONSOLAÇÃO BALZAQUIANA


Honoré de Balzac (1799/1850)



"Mas o barão era por de mais artista. E agora que desde havia um momento confundia a sua situação com a descrita por Balzac, refugiava-se de alguma maneira na novela, e para a desgraça que o ameaçava talvez e , em todo o caso ,não deixava de amedrontar, ele tinha essa consolação de encontrar na sua própria ansiedade aquilo a que Swann e também Saint-Loup teriam chamado de qualquer coisa de "muito balzaquiano".

"Sodome et Gomorrhe" (Marcel Proust)


A arte proporciona-nos o modelo dos nossos próprios sentimentos. Sem a forma que ela molda em nós, não poderíamos ter consciência do que sentimos, porque seria pouco mais do que sensação e desordem.

Mas deveríamos, para sermos mais exactos, alargar aqui o conceito de arte. Não são só os romances e os filmes que modulam e enformam estes movimentos do coração. E antes desses meios, relativamente modernos, o culto religioso, a arquitectura e a dança, conforme a lição de Émile Chartier, foram os nossos mestres.

Não há templo que não nos contenha, no duplo sentido da palavra. O espectáculo da harmonia do colectivo na liturgia (como é impressionante a assembleia perante os mortos!) ou na dança age em nós profundamente.

Para o barão de Charlus, a identificação na desventura com a princesa de Cadignan exonera-o da sua ansiedade e duma perspectiva ameaçadora.

Proust diz que é preciso ser artista para que uma tal identificação funcione, outra maneira de dizer que é preciso ser sensível à forma das coisas para criar a beleza a partir do caos.

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