sábado, 6 de setembro de 2008

A VERDADE NUA





Já li que há povos que têm o sexo em tudo excepto no sexo, e outros, ao contrário. Parece à primeira vista que a importância desmedida que assumiu a sexualidade no mundo ocidental condena irremediavelmente o espírito. A nossa cultura deixou de considerar o corpo como separado da alma? Tudo nos diz que o direito ao corpo é uma conquista do homem livre de preconceitos religiosos. A presença da alma está nos milhares de templos que cobrem a superfície da terra, e isso já não é possível negar. As ciências humanas explicaram os dois princípios como fenómenos da linguagem. Se o homem puder falar o sexo não compromete a parte superior, e a repressão, em vez de calcar o corpo em nome da lei, torná-lo-á um ideal obrigatório. Quem se impede de gozar e de buscar o gozo como finalidade de todos os seus esforços é uma pessoa com complexos, um escravo de ideias e preconceitos ultrapassados. A sociedade de consumo condena os monges ao asilo psiquiátrico e ao exílio da espécie. Mas é desconhecer a forma humana. Este paraíso totalitário é posto em causa pela morte e pela necessidade do pensamento e do coração.


O homem sem laços afectivos e sem deveres perante os outros e para si próprio não é nada. A grande empresa da libertação sexual e do prazer sem culpa como modelo de felicidade é um néon por cima dos países que a vida desmente a toda a hora. O que é interessante ver é a função universal do sexo e o espaço que pretende ocupar. Se o sexo é tão falado e tão visto é porque não se pode falar noutra coisa, nem acreditar noutra realidade, ao nível alimentar que é o dos mass media e da publicidade. Esta, porque quer vender e condicionar favoravelmente as tendências e a psicologia profunda, último refúgio do mito da natureza. Os outros, pelas mesmas razões, embora invocando algumas vezes preocupações mais elevadas, tal como a arte, a cultura e a informação.


Toda a ideia lisonjeira do homem redu-lo ao mais baixo para ter a maior base possível, e isso é necessário porque as emissões e os espectáculos custam dinheiro. Os cineastas que pensam na plateia podem agradar pela inteligência e pelo humor, mas não são criadores de beleza senão contra esse pensamento. O mundo oficial está dominada pelas leis do espectáculo que lhe impõem os mass media. E a política não escapa ao modelo do sexo. Quando tudo se quer dar a ver, o que mais se vê é o que se esconde. Não é difícil perceber a relação desta ideia com o funcionamento da própria sexualidade.


O hardcore é a morte do sexo, a sua negação completa. Só é possível tirar prazer disso porque a cena explícita nunca é realmente vista em si. Há um diferimento e uma construção no tempo que fazem da finalidade um ponto cego. A obscenidade dos meios de comunicação de massa resulta de ser impossível uma verdadeira relação entre os espectadores e o espectáculo humano. Por força do meio técnico e da disposição das pessoas, procura-se a linguagem e não a acção e o sentimento do que é visto e ouvido. Ora a sexualidade não é apenas um resumo da moral, é também uma forma de pensar. E todos pensamos mal diante da televisão.

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