domingo, 28 de setembro de 2008

O PÓRTICO




"Os professores começam com paixão. Os pedagogos adquirem-na ao ficar fascinados pelo encantamento dos estudantes. Com efeito, o sorriso de quem está a aprender, no rosto de um estudante, provoca mais dependência do que qualquer droga ou narcótico. É a paixão que anula essa doença mortal e que vai matando a aula, o aborrecimento do professor, a única situação que inibe absolutamente tanto ensinar como aprender."

"Memórias de um economista" (Peter Drucker)


Percebe-se como o tempo e o modo são aqui essenciais. Coisas como a dimensão da classe, a sua disciplina ou indisciplina, a saúde e o vigor de quem ensina podem influenciar muito a situação.

Os melhores professores pagam aquele sorriso com um árduo trabalho de preparação. Um dos grandes mestres do seu tempo, Alain, tinha por detrás do seu aparente estado de graça as horas extenuantes da véspera. Claro que os alunos nem se chegavam a aperceber. Mas ele conta nos seus diários que pensou morrer ainda jovem, de cansaço.

Este esforço é inviabilizado à partida pelo nosso trepidante modo de vida. Seria preciso conquistá-lo ao stress duma vida normal. Assim, os bons professores são raros, mesmo quando têm algum talento natural e bons conhecimentos do que ensinam.

A pressa para cumprir um programa, a desorganização que submerge todos os planos e todas as boas vontades acabam com o resto da esperança.

Com os meios que a tecnologia põe ao alcance de todos e a grande inclinação da juventude para deles tirar partido, haveria, talvez, que libertar o professor e os alunos do que se pode aprender "interactivamente". As qualidades pessoais e a capacidade de despertar o sorriso de que nos fala Drucker teriam um papel fundamental. Um ensino mais livre quanto aos programas, mas com avaliação objectiva.

Não sei se os gostos da juventude e os novos hábitos culturais dão alguma hipótese à paixão de ensinar. À partida, o que se aprende não tem nada a ver com aquilo que nos dá prazer no dia a dia.

Parece que essa distinção se deveria tornar mais sensível e fisicamente presente, como um pórtico que se tivesse que atravessar.

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