segunda-feira, 15 de setembro de 2008

REQUINTADOS PASTOREIOS


"Les Amours d'Astrée et de Céladon" (2007-Erich Rohmer)


Este filme, que vem precedido do grande crédito que merece o seu autor e dos encómios dirigidos à sua beleza formal, não me parece à altura da "Marquesa de O..." ou de "A Inglesa e o Duque".

O tema é, claro, um grande desafio pelo seu anacronismo, por já não termos a chave para compreender as formas cavaleirescas do amor.

O risco de cair no bonitinho nesta evocação bucólica dos amores de improváveis pastores e pastoras por terras dos Druídas, seguindo a prolixa narrativa de Honoré d' Urfé, um autor do século XVII que lançou a moda deste tipo de retórica amorosa, não foi sempre evitado.

Salva-se o malicioso desfecho que nos transporta para a atmosfera dos "Contos Morais". Astrée, de facto, trai abertamente Céladon com o seu travesti. E estes afagos entre mulheres deveriam despertar no nosso pastor os ciúmes que o narrador proustiano sentia por imaginá-los entre Albertine e as suas amigas em flor.

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