quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O PARADOXO DO OBSERVADOR


M.C.Escher "Drawing Hands"


"Em 'Risk: a Sociological Theory', Luhmann descreve a inevitável existência de um paradoxo cada vez que o observador nos dá conta do seu processo de decisão (decision-making). 'Cada observador, declara, usa a distinção para indicar um ou outro dos lados. Atravessar de um lado para o outro requer tempo, portanto, o observador é... incapaz de observar os dois lados simultaneamente'. Além disso, o observador é incapaz 'de observar a unidade da distinção enquanto faz uso dela, porque para isso teria que distinguir em relação à primeira distinção.'"

"Niklas Luhmann's Theory of Politics and Law" (Michael King e Chris Thornhill)



A conclusão é que a observação não se pode observar a si mesma, conforme diz Luhmann.

Consequências disto?

Estou a pensar no desenho de Escher da mão que desenha outra mão. Se a mão desenhada for todo o desenho possível da mão que desenha, temos uma imagem perfeita do observador de Luhmann.

O observador do desenho das duas mãos percebe a circularidade, mas tem, também, de fazer uma distinção entre o trabalho de Escher e, digamos, tudo o que já não é desenho, nem Escher.

Mas como nas matrioskas, esta inferência só pode ser tirada por um terceiro observador.

No sistema político, por exemplo, onde funciona o código do governo/oposição, segundo os termos deste sociólogo, o discurso de cada partido é o resultado da reflexão que faz sobre si próprio e sobre o seu ambiente (dentro dele, os outros partidos), "desenhando a própria mão".

Porque, como diz Luhmann, para qualquer partido, os outros partidos são "caixas negras" sobre as quais, apesar da ignorância fundamental, tem que desenvolver uma teoria, sobretudo, para consumo interno.

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