"Há apenas alguns isolados que, assumindo o desafio lançado à Europa monárquica, ousarão dizer como Danton: 'Nós não queremos condenar o Rei, queremos matá-lo.' Mesmo Saint-Just, preocupado sobretudo em inculcar à nação um sentimento sólido dos seus direitos, afirma que se trata menos de julgar o rei do que combatê-lo como inimigo, porque não se pode reinar inocentemente."
"Sade, meu próximo" (Pierre Klossowski)
São posições como estas que, apesar de tudo, nos abrem o abismo que nos separa desses tempos teológicos que a Revolução francesa veio esgotar no seu paroxismo. Ela não é ainda o novo princípio, visto que depende do seu inimigo para existir.
A sentença de Danton e a do "anjo da morte" do Nièvre relevam duma teologia contra Deus.
Isto parece ilustrar a tese de Comte dos três estados, porque o estado metafísico que sucede ao teológico está ainda desencarnado na sua negação abstracta.
Mas duzentos anos não foram suficientes para fazer desaparecer o "instinto" teológico. Ele sobrevive nas modernas revoluções e em conceitos como a justiça de classe ou o juízo da História.
De resto, é muito provável que a lei de Comte se deva aplicar à formação do espírito. Porque a infância, com os seus deuses, é sempre teológica e a adolescência e a juventude metafísicas, pela sua necessidade de se demarcarem das gerações anteriores.
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