quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O FATAL ABORRECIMENTO



“Mathilde s’ennuyait en espoir. Le Marquis de Croisenois parvint à l’approcher, et lui parlait, mais elle rêvait sans l’écouter. Le bruit de ses paroles se confondait pour elle avec le bourdonnement du bal. Elle suivait de l’oeil machinalement Julien, qui s’était éloigné d’un air fier et mécontent.”

“Le Rouge et le Noir”  (Stendhal)



Alain admirava esta expressão: “s’énnuyer en espoir”. A jovem marquesa fazia-se acompanhar para onde quer que fosse duma provisão de aborrecimento antecipado que lhe estragava a vida. Era orgulhosa do seu sangue e do seu génio, e à sua volta só encontrava cortesãos. É próprio duma corte aborrecer-se mortalmente, o que é pagar demasiado caro os privilégios.

Mathilde de La Mole decretara, pois, que nunca haveria nada de novo e que nunca poderia conhecer alguém interessante. Há-de apaixonar-se, não pelo plebeu Julien Sorel e os seus modos selvagens, mas pela ideia de amar tal personagem, com um romantismo por que estava disposta a arriscar tudo.

O tipo de aborrecimento de Mathilde é característico da velhice e não duma jovem de vinte anos. A expectativa de aborrecer-se é natural naquela e está à medida do seu pequeno futuro e do seu mundo que desaparece.

1 comentários:

Anónimo disse...

A "ideia de amar tal personagem" não é o que se passa também com a Carmen? A sedução a D. José e logo de seguida a Escamillo não será também uma "ideia de amar o amor"?

Maria Helena