Atenas |
“O
remédio pré-metafísico que (os Gregos) encontraram para esta fragilidade (dos
assuntos humanos, ‘ta anthrõpina
pragmata’)
foi a invenção da polis, concebida como um lugar estável
onde fosse possível partilhar e registar (memorialize) feitos e palavras
publicamente. Dito de outro modo, a vida política, sob a forma especificamente
grega de isonomia, foi instituída com respeito a
um comum horizonte de aparências, dentro do qual o estar-juntos de praxis e lexis podiam ser mantidos em segurança
e florescer, estar-juntos dentro do qual se podia localizar a emergência de
sentido para além das necessidades da vida e para lá da utilidade.”
“The Thracian Maid and the Professional Thinker”
(Jacques Taminiaux)
Criar um mundo que
perdure, para além da morte individual, parece ser, de facto, uma necessidade básica
dos humanos e, em primeiro lugar, da função de pensar. Sem uma língua e sem uma
cultura, decerto, não poderíamos pensar e ambas transcendem o indivíduo e
exigem uma dimensão temporal que não é a do nosso quotidiano. Esse meio é tão
vital quanto as condições físicas do nosso habitat.
No caso da cidade
criada pelos Gregos só se pode falar dum “para”, duma finalidade consciente,
com alguma liberdade filosófica, porquanto ela não é uma criação individual,
nem um objecto “fabricado” para ter um fim consciente.
Se parece ter uma
lógica a posteriori, tal como na natureza darwiniana, não se
pode deve deduzir dessa lógica a inteligência dum criador, mas compreender como
é que a forma da polis
pôde adaptar-se e perdurar, ao contrário de outras experiências do “estar-juntos”.
A mesma ideia pode
aplicar-se ao mundo de hoje, e ao domínio do trabalho em particular, o qual,
cada vez mais, se aproxima da fórmula do viver sem amanhã.
Se pudéssemos estar à
frente dessa lógica por pouco que fosse, perceberíamos que entrámos numa
experiência que não pode vingar. Mas só nos museus de amanhã poderemos ver os
seus lamentáveis abortos.
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