"Gargântua" (Rabelais) |
“O
reconhecimento da verdade é enfim expresso na forma de proposição afirmativa.
Não é para isso de modo nenhum necessária a palavra ‘verdadeiro’. Mesmo que a
empregássemos, a força propriamente afirmativa não reside nela, mas na forma da
proposição afirmativa; se a proposição perde a sua força afirmativa, a palavra ‘verdadeiro’
não lha pode devolver. É o que acontece quando não se fala a sério. Do mesmo
modo que o trovão de teatro é apenas um pseudo-trovão, que o combate de teatro
é apenas um pseudo-combate, do mesmo modo que a afirmação de teatro é apenas
uma pseudo-afirmação.”
“Écrits Logiques et Philosophiques” (Gottlob Frege)
Não poderíamos,
então, enunciar uma lei da Física, por exemplo, com um sorrido giocondesco,
como quem aponta para a máscara (‘larvatus prodeo’).
O sorriso seria, neste caso, como as aspas que colocamos numa qualquer
expressão. Não estamos aqui a citar outrem, mas a indicar que o sentido de tal
expressão não é a do seu ‘valor facial’.
A ideia de Frege
remete-nos para a questão da actualidade dos signos. Por exemplo. Um livro
fechado, que ninguém lê, não tem nenhuma relação com a verdade, nem se nele
estivessem contidas a melhor história do Império Romano ou a própria Teoria da
Relatividade. Assim, uma teoria que não estivesse “actualizada” por uma qualquer
forma viva (que não fosse pensada), seria como a verdade de teatro de que fala
Frege.
As Sorbonnes com que
gozava Rabelais representavam esse tipo de pseudo-saber. É um caso em que a “seriedade”
não é sinal de se estar a “falar a sério” (com verdade).
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